Ao se completar um ano da promulgação da Emenda
Constitucional nº 72
Roberto Dias Duarte
Ao se completar um ano da promulgação da Emenda
Constitucional nº 72, no último dia 2 de abril, os trabalhadores domésticos
permaneciam descobertos em seus direitos. E continuarão assim sabe-se lá até
quando, pois a lei que regulamenta a EC está parada na Câmara dos Deputados,
após ter passado pelo crivo dos senadores, em julho do ano passado.
Por enquanto, apenas alguns direitos já têm
aplicabilidade prática, caso da jornada de 8 horas diárias e 44 semanais, bem
como do pagamento de horas extras.Questões como o FGTS e o seguro-desemprego,
no entanto, ainda dependem desta regulamentação.
Embora este tipo de situação não seja inédito na
história do nosso país, o entrave político, além do problema socioeconômico que
está causando, leva a outra situação – a postergação do eSocial para os
empregadores domésticos.
Criado pelo governo federal, esse sistema unificará as
informações trabalhistas e previdenciárias. Para empregadores pessoa jurídica,
a obrigatoriedade foi prorrogada, ainda que informalmente, para outubro.
Atualmente, 2.103.269 empregadores domésticos esperam por uma definição, pois
eles deverão obedecer ao eSocial 120 dias após a aprovação da lei que
regulamenta a EC 72. E isto ninguém sabe ao certo quando ocorrerá.
Com a implantação desse sistema, o governo espera
aumentar a arrecadação e a produtividade dos órgãos fiscalizadores, além de ter
os trabalhadores auxiliando na fiscalização das obrigações trabalhistas e
previdenciárias, presumindo também a redução de fraudes na concessão de
benefícios previdenciários e do seguro desemprego.
Ao
acessar – www.esocial.gov.br,
os empregadores deverão cadastrar nesse sistema os funcionários e seus eventos
trabalhistas como contrato de trabalho, afastamentos, férias, horas extras,
aviso prévio, desligamento, remunerações mensais e décimo terceiro. A inclusão
de dados errados ou incompatíveis com a legislação vai penalizar os
empregadores, afinal, a fiscalização eletrônica é muito mais eficiente e
abrangente do que a promovida por amostragem.
Receita Federal, Caixa Econômica Federal, Ministério do
Trabalho e Ministério da Previdência utilizarão as informações registradas para
fiscalizar o cumprimento de normas. Na prática, teremos um big
brother semelhante ao fiscal agora monitorando as relações entre os
trabalhadores domésticos e seus patrões.
Por mais simples que seja o preenchimento das telas do
portal, nossa legislação trabalhista, cheia de lacunas, excessivamente
detalhista e confusa, torna praticamente obrigatório aos empregadores procurar
auxílio de profissionais especializados. Hoje, cerca de 80 mil escritórios
contábeis existentes no Brasil tendem a se preparar para atender tamanha
demanda. Afinal, esse público exigirá preços e serviços bem diferenciados em relação
aos praticados no setor empresarial.
As relações capital-trabalho nos nossos lares realmente
caminham para um formalismo maior, e por que não dizer, o mais puro
profissionalismo. Certamente, ambos os lados precisam de apoio para conduzir
essa grande transformação no sentido de uma verdadeira"governança
doméstica".
Nenhum comentário:
Postar um comentário